O ‘Top de Linha’ do jornalismo, edição 2012

Desde 2006, meu maestro soberano Philip Meyer é patrono de um prêmio de jornalismo que reconhece as reportagens de apuração mais complexa publicadas no ano. “O prêmio reconhece os melhores usos de métodos da ciência social no jornalismo”, diz a descrição oficial.

Semana passada, saíram os três vencedores da sétima edição.

Trata-se do “top de linha” do jornalismo. Esses trabalhos combinam levantamento de informações públicas, por meio do Freedom of Information Act, análise sofisticada de estatísticas e a sempre eficaz arte de sujar os sapatos.

Em termos de dinheiro, o prêmio Philip Meyer é modesto comparado até aos prêmios mais muquiranas dados no Brasil: US$ 500, US$ 300 e US$ 200, respectivamente, para cada colocação. O significado desse prêmio para o desenvolvimento do jornalismo, porém, é bem mais valioso. Na inscrição dos trabalhos, é preciso descrever todo o processo de apuração. É a complexidade da apuração, e não o produto final ou seu impacto, que pesa mais na avaliação. As descrições dos trabalhos ficam, depois, disponíveis para os sócios da IRE, para que possam aprender com a experiência dos colegas.

Vale a pena conhecer esses trabalhos, que forçam com louvor os limites autoimpostos ao jornalismo pela falta de conforto com os números. A minha lista completa, feita desde a primeira edição, está aqui. Estes são os vencedores de 2012, na descrição feita pela IRE:

 

1º LUGAR: “Mistérios de Assassinato“, Scripps Howards Service
Equipe: Thomas Hargrove

A série é um exemplo excelente do poder do jornalismo de precisão para encontrar padrões reveladores nos dados. Thomas Hargrove deu início ao projeto questionando se o Relatório Suplementar de Homicídios do FBI poderia ser usado para detectar o trabalho de serial killers entre os mais de 185 mil assassinatos não solucionados do país. Primeiro, ele descobriu que a polícia local deixava de relatar milhares de assassinatos ao FBI e passou meses usando as leis de acesso a informações públicas para levantar detalhes sobre mais de 15 mil assassinatos sem registro no país. Depois de construir o que especialistas consideram o mais completo banco de dados disponível sobre assassinatos não resolvidos, Hargrove desenvolveu um algoritmo único que usou a técnica estatística de análise de agrupamentos para identificar os traços de possíveis assassinatos seriais, com vítimas de características demográficas semelhantes sendo mortas de maneiras semelhantes. Em ao menos oito cidades, a polícia confirmou que os agrupamentos encontrados por Hargrove são casos confirmados de assassinatos em série ou têm chance de serem. O banco de dados foi colocado na internet para que os leitores possam fazer sua própria análise interativa dos assassinatos locais, e o banco inteiro está disponível para que qualquer um o baixe e explore. Ao menos um detetive amador usou os dados para encontrar um agrupamento que a polícia de sua região concordou ser o trabalho de um serial killer até então desconhecido.

2º LUGAR: “Testando o sistema“, USA Today
Equipe: Marisol Bello, Jack Gillum, Linda Mathews, Greg Toppo, Jodi Upton e Dennis Cauchon, (USA Today); Denise Amos (Cincinnati Enquirer); Chastity Pratt Dawsey, Peggy Walsh-Sarnecki e Kristi Tanner-White (Detroit Free Press); Anne Ryman (The Arizona Republic)

O projeto do USA Today examinou o crônico problema de escolas que trapaceiam em testes padronizados. Ao levar sua análise para o nível nacional, o grupo de repórteres e editores de bancos de dados laboriosamente obteve e limpou ao menos cinco anos de notas em testes e taxas de resposta e apagamento para seis Estados e para o Distrito de Columbia. Usando regressão linear e análise de variância, as escolas com aumentos suspeitos foram identificadas como estatisticamente fora do padrão e usadas como pauta para reportagem de campo. A série fez com que fosse aberta uma investigação federal do Departamento de Educação sobre as práticas das escolas da capital do país e a um reforço nos procedimentos de segurança dos testes.

3º LUGAR: “Um conto de três cidades: retomadas de imóveis nem sempre seguem o script“, The Seattle Times e Propublica
Equipe: Sanjay Bhatt (The Seattle Times); Jennifer LaFleur (ProPublica)

O projeto conjunto desafiou estereótipos comuns sobre retomadas de imóveis por conta de hipotecas pendentes, ao analisar e comparar os padrões demográficos e financeiros dessas retomadas em três cidades fundamentalmente diferentes: Seattle, Baltimore e Phoenix. Os repórteres identificaram uma amostra aleatória de 400 casos em cada uma das cidades, e depois usaram muita reportagem tradicional para obter detalhes de cada caso, cobrindo certidões, promissórias, bancarrotas anteriores e consequências da retomada. A análise do banco de dados resultante mostrou que, ao contrário do senso comum, apenas um quarto dos casos de retomada envolviam empréstimos que poderiam ser considerados predatórios, e que em mais da metade das retomadas os proprietários puderam manter suas casas depois que os  bancos concordaram em mudar as regras do empréstimo.

London burning

(Publicado primeiro no blog Novo em Folha.)

A imagem da primeira página da Folha, hoje, é chocante: um prédio em Londres, incendiado por manifestantes que protestavam contra a morte de um homem pela polícia. Foram presas 160 pessoas no final de semana.

Os protestos e saques começaram em Tottenham, um bairro pobre com grande população negra, e chegaram até o centro da cidade, em Oxford Street. E o prefeito, Boris Johnson, está em férias. Como sói acontecer nessas horas complicadas, o elemento mais difícil de obter é o porquê. Os manifestantes não são organizados a ponto de publicar uma declaração dos seus princípios. A rigor, praticamente entra no protesto quem quer. E é justamente nessas horas que vêm as interpretações apressada, as simplificações.

Há quem diga que a revolta tem a ver com os cortes nas verbas sociais do Orçamento. O Daily Telegraph diz que comprar essa versão deixa os culpados à solta. Ele culpa a “yob culture”, algo como “cultura de mano”. Para The Sun, não tem conversa: quem se revoltou é tudo bandido mesmo. Mas será que é? O Guardian lembra que Tottenham não é “um lugar mau cheio de gente má”. É um lugar com más condições de vida (mal comparando, é como se fosse uma favela), onde a maioria não é por natureza violenta.

Kevin Anderson, um jornalista freelance, olhou a situação e viu paralelos com um clássico do jornalismo de 1967.

Naquele ano, no bairro negro de Detroit, alguns soldados negros voltaram da guerra do Vietnã e foi feita uma festa para recebê-los. Em dado momento, a polícia bateu lá e botou todo mundo da festa em cana. Daí para estourar uma revolta incendiária foi um pulinho. Até porque já tinha acontecido em outros lugares antes. A reação imediata foi mais ou menos a mesma: especulação desenfreada.

Meu mestre Philip Meyer, que trabalhava para a rede de jornais que publicava o Detroit Free Press, resolveu fazer a cobertura tentando deixar o fígado de lado. Especializado em métodos de pesquisa das ciências sociais, ele preparou um questionário para testar o senso comum. Escolheu uma amostra estatisticamente correta dos moradores do bairro para tentar descobrir o perfil de quem se revoltou, e de suas razões. Chegou a conclusões bem diferentes desse senso comum. Uma delas era que os mais revoltados estavam entre os que mais estudaram, colado com os que largaram os estudos no ensino médio, e não entre os ignorantes.

Inspirado nesse post, o Guardian resolveu adaptar o velho questionário do mestre Philip Meyer e colocar na internet, esperando que viessem respostas interessantes. Além de perguntar se o respondente participou ou não das revoltas e qual seu perfil, são feitas perguntas sobre aprovação ou desaprovação ao governo e sobre como uma vigília tranquila virou uma rebelião incendiária. Algumas das respostas dos leitores parecem interessantes para dar uma perspectiva mais nuançada sobre o que houve.

O uso de enquetes eletrônicas para reportagem tem limitações sérias. Primeiro e antes de mais nada porque responde quem quer. Segundo porque responde quantas vezes quiser, do jeito que quiser. Em seu livro “Precision Journalism”, nunca publicado no Brasil, Meyer enfatiza bastante a necessidade de rigor e aleatoriedade na amostra de uma pesquisa séria.

Mandei um email para Meyer perguntando o que ele achou. Ele disse o seguinte:

“Interessante! O problema não é tanto que os dados são coletados online, mas que os entrevistados se auto-escolhem. E a decisão de participar da pesquisa pode estar correlacionada a algo interessante que devia ser medido. Por exemplo, se as pessoas com maiores reclamações tiverem mais probabilidade de participar da pesquisa, então o nível de reclamação medido será exagerado. Ainda vale a pena como pesquisa exploratória. Pode trazer dicas para os repórteres e para uma eventual pesquisa mais rigorosa. Até lá, será difícil resistir à tentação de generalizar a partir dos resultados online. Entrevistas pessoais com os presos também podem trazer dicas. O Guardian é um ótimo jornal, e desejo o melhor para eles.”

Como o Pato Donald revelou um segredo da CIA

Desde 1917, a CIA guardou a sete chaves um segredo estratégico: a receita de uma tinta invisível usada para comunicar segredos militares. Durante mais de 20 anos, pesquisadores brigaram na Justiça pra obter esses dados. Além de fazerem parte da história, hoje em dia há métodos mais seguros – tipo criptografia.

Ontem, o segredo caiu. A agência resolveu liberar os documentos secretos mais antigos de sua coleção. Leon Panetta, diretor da CIA, disse que esses documentos “ficaram em sigilo por quase um século até que recentes avanços tecnológicos tornaram possível liberá-los”. Arrã. Revelou porque foi obrigada, isso sim.

Os EUA têm uma lei de acesso a informações públicas desde 1966. Foi preciso brigar na Justiça pra obter os documentos, mas no final o governo foi obrigado a revelar. Mais de 80 países do mundo já têm leis de acesso.

No Brasil ainda não temos uma lei assim, mas as comissões pertinentes do Senado aprovaram ontem o projeto de lei que acaba com o sigilo eterno de documentos. Atualmente, até documentos sobre a GUERRA DO PARAGUAI são eternamente sigilosos. O projeto de lei deve ir a votação no Senado dia 3 de maio.

E a tinta?

São várias receitas, na verdade. Algumas são mais difíceis. Mas uma delas (a quinta deste documento)  fala em escrever com suco de limão e revelar com ferrocianeto de potássio.

Eu, porém, conhecia essa receita ultrassecreta desde a infância. Duvida? Pois leia este trecho do Manual do Escoteiro-Mirim, então (valeu @odildavid e @aliceviralata por me refrescarem a memória):

Pois vejam só. O Pato Donald agiu como um Julian Assange versão 1.0, furando um segredo militar de décadas. E sem precisar nem de ferrocianeto. (A lâmpada funciona. Já testei no século passado. O problema é queimar os dedos.) Isso me lembra da situação em que o Superman revelou segredos da Ku-Klux-Klan. Não conhece? Então leia aqui.

Esse tipo de segredo, quando revelado, só ilustra o que eu sempre digo sobre acesso a informações públicas: geralmente o sigilo não tem sentido. É desnecessário e só serve a fins burocráticos. Só serve a orgulhos políticos ou de outra sorte.

Por isso é que eu fico meio de cara quando leio títulos como este que o Estadão publicou ontem:

Câmara aprova projeto que dá prazo para divulgar documentos sigilosos

Isso significa que não adiantou toda a movimentação feita desde 2004 pela Abraji por uma lei de acesso a informações públicas. Nem os jornalistas, maiores interessados no assunto, sabem direito para que serve uma lei de acesso. Mesmo excelentes jornalistas, como é o caso da autora da reportagem aí linkada.

Mas qual é o problema com o título?

Simples. A lei não servirá para divulgar documentos sigilosos. Sim, eles também deverão ser divulgados. Mas ela serve para QUALQUER CIDADÃO ter acesso a TODOS os dados produzidos pela administração pública com o NOSSO dinheiro. O sigilo é a exceção. A lei define prazos para o sigilo, prazos após os quais os documentos devem se tornar de domínio público.

Hoje, na falta de regulamentação, até documentos naturalmente públicos são tratados como sigilosos, dependendo da boa vontade e conveniência política do barnabé da vez.

É complexo. Mas é uma briga que vale a pena. Vai saber quantos sucos de limão não tem nos documentos sobre a guerra do Paraguai, atualmente sob sigilo eterno.

O economês, o câmbio, seu bolso e a importância da economia

Hoje tive uma conversa interessante com a leitora @RenataPetry. Ela perguntou no Twitter o que é alíquota. É uma palavra que sempre aparece no noticiário, muitas vezes em questões divisivas, mas para muita gente não fica claro de que se trata. É uma das coisas clássicas do tal “economês”, o jargão de iniciados que é dado de barato para os não iniciados.

Não existem definições que expliquem direito que raio é isso. No Aulete, consta:

Parcela (calculada ou definida percentualmente) do valor de algo, e que deve ser paga como imposto. Divisor exato de uma quantidade; parcela que está contida num todo um número exato de vezes.

Confuso, parece. Vamos à Wikipedia, fonte de tantos trabalhos escolares:

Em Direito tributárioalíquota é o percentual ou valor fixo que será aplicado sobre a base de cálculo para o cálculo do valor de um tributo. A alíquota será um percentual quando a base de cálculo for um valor econômico, e será um valor quando a base de cálculo for uma unidade não monetária. As alíquotas em percentual são mais comuns em impostos e as alíquotas em valor ocorrem mais em tributos como empréstimo compulsóriotaxascontribuição de melhoria.

Acuma?

Alíquota é uma coisa que eu sei o que é mas nunca me importei em definir. Para ajudar a estudante, tentei explicar da seguinte maneira. Imagine que juro, ou imposto, é uma moeda. Alíquota é o preço, expresso em percentual. Ou seja, ele incide proporcionalmente sobre outro valor de acordo com um percentual.

Conhecer isso é crucial para controlar o bolso. Pense nos juros de um empréstimo bancário, por exemplo.

Se você tomou um empréstimo de R$ 100 a 6% de juros ao mês, pra pagar daqui a seis meses, isso significa que o cálculo é feito aumentando em 6% sua dívida acumulada a cada mês. Só então são divididas as parcelas. No primeiro mês, sua dívida aumenta R$ 6. No segundo, aumenta mais R$ 6,36. No sexto, além dos R$ 100 que já tomou e gastou, você deve mais R$ 41,85 de juros. Dividido em seis parcelas, dá R$ 23,64 por mês. Parece pouco, mas só de juros você pagou quase a metade do que tomou.

Se alongasse a dívida por mais um mês, em mais uma parcela, você pagaria só de juros praticamente a metade do que pegou emprestado. E, quando R$ 100 importam tanto a ponto de você tomar empréstimo nesse valor, pagar R$ 50 a mais sai caro. E, como a alíquota é uma coisa proporcional, se o empréstimo fosse de R$ 1.000, os juros seriam de R$ 503,63 em sete meses.

O pai da Renata, que lhe propôs o desafio, chamou sua atenção a respeito do aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras para comprar em dólar no cartão de crédito, para 6,38%. A intenção declarada pelo governo é frear a desvalorização do dólar. Acontece, porém, que até agora não está adiantando – o pessoal continua comprando em dólar e o dólar continua caindo. Só o que cresce é a arrecadação do governo.

Pense assim.

Como o dólar está barato para gastar (exatamente agora está a R$ 1,585), você pode ir a Nova York, ida e volta com uma escala, por US$ 805. Isso dá R$ 1.275, o que torna uma visita a Nova York potencialmente mais barata que uma visita a vários lugares no Brasil.

Se você vai aos EUA e compra lá um iPad 2 16GB no cartão de crédito, você vai pagar US$ 615 à vista (R$ 972,80 ao câmbio de hoje). Em cima disso, vai incidir um IOF de 6,38%, que acresce R$ 62,06 à sua conta do cartão de crédito. Somando tudo, seu iPad 2 novinho em folha saiu por R$ 1.034,86.

Nas lojas aqui no Brasil, um iPad 1, também de 16 GB, sai por R$ 1.257,32 à vista. Pode parcelar, também, mas a loja bota juros à alíquota de 1,99% ao mês, o que eleva o preço pra R$ 1.399,00.

Os R$ 62 acrescidos ao preço mais baixo do produto de lá acabam não fazendo nem cócegas pro consumidor. Mas entram no caixa do governo que é uma beleza. Assim o governo pode de um lado contabilizar os ganhos e de outro lado dizer que está fazendo alguma coisa pra tentar parar a supervalorização do real, mas os consumidores é que não ajudam.

Mais ainda: existe sempre a possibilidade de o dólar estar AINDA MAIS BAIXO quando vier a fatura do cartão.

Maluco isso, né?

Parece bom para o consumidor, que paga menos. Mas pense por exemplo nas empresas brasileiras que querem exportar produtos pra fora. Todos os custos dela estão em reais, mas a exportação é em dólares. Geralmente quem importa produtos brasileiros em escala comercial paga uns 30 dias depois, no mínimo. Isso significa que ou o exportador brasileiro aumenta o preço dos seus produtos em dólar, ou ele corre o risco de vender em dólar esperando ganhar um valor determinado em reais e, na hora de receber, ganhar menos.

Temendo vender menos, ele precisa cortar custos. Geralmente, porém, os custos que as empresas cortam têm braços, pernas e famílias para alimentar. Complicado, né?

***

Em 1996, quando eu era estudante de jornalismo, tive uma experiência que me abriu os olhos. Fui participar do Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação, na UFSC. Verde de baladas e farras, me inscrevi numa oficina de jornalismo econômico com o professor Hélio Schuch. Pior: assisti todas as aulas. Mais ainda: isso me mudou a cabeça.

O Hélio é um cara que faz conexões várias (ainda ontem saiu um artigo dele). É um cara de bom papo e senso de humor peculiar (vide sua foto no Lattes). Viramos amigos, tamanha a gratidão que levei pra casa.

Mestre Hélio me apontou o que é Teoria dos Jogos, uma técnica usada para avaliar custo-benefício em situações várias. Uso esse tipo de raciocínio até para decidir que hora sair de casa em São Paulo se tenho um compromisso às 8 da noite. Mas, antes de mais nada, mestre Hélio me abriu os olhos para a ideia de que a economia é a “verdadeira” psicologia.

Usamos o raciocínio econômico, pesando custos e benefícios, pra todo tipo de decisão. Ainda que inconscientemente. Se eu não consigo perder peso por muito tempo é porque com frequência recebo um parente em casa, quero agradar, aí sempre acabamos comendo ou bebendo bem demais. Isso tem um custo em termos de peso, por exemplo.

Para um jornalista, especialmente se jovem, conhecer um pouco de como funciona o raciocínio econômico é fundamental para tudo. A Renata é fascinada por moda, pelo que vi. Conhecer como funciona o raciocínio econômico pode apontar os porquês de várias coisas em sua área (que pra mim é uma ilustre desconhecida). Aponta os porquês de preços, aponta os porquês de materiais e até de ocasiões.

Depois que o mestre Hélio me apontou a importância da economia, resolvi que queria aprender o suficiente pra entender o que acontece. Na época, fui atrás de “Introdução à Análise Econômica”, um clássico do Paul Samuelson. Comprei na segunda edição, de 1968, por R$ 16 num sebo. Ainda se acha baratinho em sebos.

Apesar de didático, é uma leitura acadêmica demais – eu com 20 anos adorava esse tipo de leitura, mas compreendo quem não goste.

Hoje em dia, existem opções interessantes. Dou duas dicas:

Freakonomics, de Steven Levitt e Steve Dubner

De longe o livro mais famoso dessa leva de economistas didáticos. Eles levantam pesquisas de economistas e mostram o lado divertido da disciplina antigamente conhecida como “a ciência lúgubre”. Leia a introdução aqui. O sucesso do livro fez com que os autores lançassem uma sequência, o Superfreakonomics.

O Economista Clandestino, de Tim Harford

De longe o meu favorito. Harford é britânico, jovem, curte games e apresenta um programa na BBC chamado “More or Less”. Nele, ele discute os números do dia-a-dia. O More or Less é a grande inspiração do Numeralha. Este livro também é mais amplo, procurando explicar como os conceitos básicos da economia se aplicam ao dia-a-dia. Leia uma entrevista com Harford.

***

Você pode se perguntar: curtindo tanto economia, por que não virou jornalista econômico?

Simples: oferta e demanda.

Em 2000, cheguei a participar do Programa de Treinamento em Jornalismo Econômico, da Folha de S,Paulo. Mas, ao final do curso, a vaga que estava aberta era em política. Eu não curtia política, nunca simpatizei com partido nenhum, mas topei a vaga.

O fato de eu não curtir o críquete dos engravatados, o “disse Fulano” do dia-a-dia, somado ao fato de eu ser redator (ou seja, não tinha obrigação de ter matéria própria todo dia) e fascinado por dados, me levou a procurar pautas que aplicassem esse raciocínio à análise da política.

Fiquei fascinado. Porque a lógica econômica subjacente explica muita coisa.

Foi daí que eu peguei gosto por olhar quanto nossos caríssimos políticos gastam. Ou como gastam. Ou a que incentivos eles respondem na hora de gastar dinheiro público a rodo. Ou por que raios quando tem um escândalo eles preferem defenestrar o rato a fechar o ralo.

Foi daí que eu incentivei minha mulher, fanática por cinema desde criança, a procurar olhar como funciona a produção de filmes. E ela ficou craque nisso, por conta própria.

Enfim, recomendo a todo mundo. Seja jornalista, seja mero curioso. Ou ambos, o que é sempre ótimo.

Noção de risco, essa arte pouco apreciada

“Isso aí é um Fokker 100? Ah, essa não. Foi esse mesmo avião que estava no acidente da TAM. Nunca mais compro passagem desta empresa aérea.”

Ouvi a frase hoje pela manhã, quando embarcava em Brasília voltando para São Paulo. O acidente com o Fokker da TAM ocorreu em 1996. Ao todo, houve apenas 9 acidentes nesse modelo de aeronave (dos quais só três com mortes). O de 1996, com 99 vítimas, foi o pior de todos – elas são mais da metade das 178 mortes nesses acidentes com Fokker. É irracional o medo dela, não? Quase perguntei que modelo de carro ela tem, pra levantar casos de acidentes com ele.

(Veja aqui uma tabela com 450 acidentes de avião ocorridos no Brasil desde 1942.)

Isso me lembrou várias manifestações que ouvi nos últimos dias, que demonstram como o pessoal não tem um feeling muito apurado pra avaliar riscos. Pegue por exemplo a frase do tio de um dos alunos mortos na escola Tasso da Silveira, publicada no sábado na Folha:

“Eu também tenho um filho. Como posso mandá-lo para a escola na segunda-feira? Como posso ficar tranquilo?”

Compreendo que o filho do entrevistado possa ter péssimas lembranças ao voltar à escola onde o primo foi morto. Ninguém gosta de expor um filho a esse tipo de lembrança – e o trauma das crianças é perfeitamente compreensível. Poxa, podiam ser elas, né?

O “como posso ficar tranquilo” é que me intriga.

Ora, se a preocupação que lhe tira a tranquilidade é a possibilidade de outro atirador aparecer na escola, as chances são absurdamente baixas. O ataque aparentemente não era uma ação organizada contra a escola, e sim uma coisa pessoal lá do atirador. Como ele se matou, não existe muita chance de ele voltar lá. Houve tiroteio lá perto hoje, mas foi um assalto a banco. Pode acontecer em qualquer lugar, infelizmente.

Pior. A escola Tasso da Silveira estará vigiada pela polícia e pela imprensa nos próximos dias. Outras, nem tanto. Isso torna a Tasso da Silveira mais segura do que a maioria das outras. Nas outras, sempre pode um deserdado da noção resolver ir de arma, sabe-se lá por que motivo, mas possivelmente impressionado com a atenção dispensada nacionalmente ao assassino carioca. Aconteceu hoje em Florianópolis. Pode acontecer em outros lugares.

Isso pode ser a desculpa ideal para uma criança preguiçosa que não quer acordar para ir estudar. “Tá louca, mãe? Vai que um ex-aluno aparece lá de arma na mão…” (Pior: por observação, sei que muitas considerariam isso sensato.)

Em termos de debate público, porém, é completamente contraproducente.

***

O canadense Dan Gardner escreveu um livro precioso, cuja leitura é importante em semanas como esta, cheias de especialistas palpitando sobre tudo. Seu título é “Risco – a ciência e a política do medo“. Logo no prólogo, Gardner conta uma das reações ao 11 de Setembro. Com medo de voar, muita gente passou a pegar seu carro e ir para a estrada.

“Só que ninguém falou a respeito do aumento explosivo das viagens de automóvel. Por que falariam? Era secundário. Havia ameaças mortais com que se preocupar. Uma coisa que nenhum político mencionou foi que as viagens aéreas são mais seguras do que as viagens terrestres. Sensivelmente mais seguras – tanto que a parte mais perigosa de um típico voo comercial é o percurso até o aeroporto. Na verdade, a diferença em termos de segurança é tão grande que os aviões continuariam sendo mais seguros que os carros mesmo que a ameaça de terrorismo fosse inimaginavelmente pior do que ela realmente é: um professor americano calculou que, mesmo que os terroristas estivessem sequestrando e derrubando um jato de passageiros por semana nos Estados Unidos, uma pessoa que voasse uma vez por mês durante um ano teria apenas uma chance em 135 mil de morrer em um sequestro – um risco pequeno se comparado à chance anual de uma em 6 mil de morrer em um acidente de automóvel.”

Isso me lembra em boa parte argumentos que ouço sempre que defendo que faz bem não ter carro. Eu não tenho por opção, por pesar vários bons motivos: um carro a mais na rua é um carro a mais engarrafando a rua; transporte público (ônibus, metrô e até táxi) tá na rua pra isso mesmo; não dirigindo, posso aproveitar o tempo dos deslocamentos pra atualizar as leituras.

“Ah, mas eu prefiro gastar mais pra ter o meu carrinho a ficar pegando ônibus e ser assaltado”, já ouvi. Ora, eu ando de ônibus desde criança. Nunca fui assaltado em ônibus. Talvez um dia seja, embora prefira não – há gente que é, sim, mas não é todo mundo e nem é todo dia.

Eu não conheço ninguém que tenha sido assaltado no ônibus, mas conheço quem tenha sido assaltado no carro. Conheço quem tenha tido o carro roubado – o que é um prejuízo maior do que ter a carteira roubada no ônibus. E conheço mais gente que sofreu acidente de carro do que de ônibus. Aliás, um levantamento recente mostrou que armas de quatro rodas matam muito mais do que armas de fogo em alguns estados.

No limite, precisamos conviver com a noção de que só não corre risco quem não vive. Dá pra avaliar riscos racionalmente, com algum bom senso e um pouco de pesquisa. Riscos avaliados podem ser reduzidos. O lado triste disso é que meus colegas de profissão não ajudam muito a dar a medida das coisas. Especialmente com o tipo de cobertura que fazem de casos como o do tiroteio da escola Tasso da Silveira.

O que não dá é pra deixar o medo mandar em nós.

No filme “Elsa & Fred“, há uma frase que resume bem isso. Elsa, uma viúva divertida e trapalhona, conhece Fred, um viúvo quietão e hipocondríaco. Acho que a frase vem numa cena em que Fred diz que não pode comer uma sobremesa por causa do colesterol. Elsa diz:

— No tienes miedo de morirte; vos tenés miedo de vivir.

Quem tem medo de tudo não vive.

***

EDITADO: Para você não pensar que eu quero dizer que sou bonzão e sei evitar todos os riscos, vale eu contar uma história de 2006. Fui ao Rio de ônibus e, pra não acordar muito cedo meus amigos, resolvi caminhar pela beira da praia com minha mulher. No aterro do Flamengo, entrando pelo finalzinho da Rio Branco. Em certo trecho, um sujeito veio nos assaltar com uma faca. Eu reagi. O cara me esfaqueou o braço. Podia ser pior.

Pessoas passavam ao redor e não fizeram nada. Mais tarde, pensando no que houve, caiu a ficha de qual era meu fator de risco. Nós éramos os únicos trouxas que não estavam de roupa de banho e além de tudo usavam mochila. Tudo em nós gritava “ATENÇÃO, DOIS TROUXAS DE FORA DA CIDADE”. Estando vestidos, éramos os únicos que corriam o risco de estar com uma carteira – ou máquina fotográfica, que foi o que o sujeito levou.

Passei um tempo com medo de qualquer mendigo que me encarasse na rua. Aí comecei a avaliar o que eu podia ter feito pra não acontecer mais aquilo. Onde? Quando? Vestido como? Andando como? E é aí que está o que realmente dá pra tirar de lições de uma coisa dessas.

CAPAS – uma história de super-heróis, uma hipótese da vida real

Acabo de pensar um roteiro genial para uma continuação de “Watchmen“, o clássico dos quadrinhos de Alan Moore. Mas, como Moore disse que a história não vai continuar de jeito nenhum, prefiro dar outro nome à história. “CAPAS”, por exemplo, em alusão às capas usadas pelos super-heróis.

(A alternativa seria “CUECAS PRA FORA DA CALÇA”, o que é muito comprido. Fica sendo “CAPAS”, então.)

A história de “CAPAS” começa logo depois da última página do capítulo 12 de Watchmen.

Sem muita coisa para publicar, o diretor do jornal New Frontiersman pede que seu estagiário busque algum material na caixa dos malucos. São correspondências enviadas por leitores, denunciando conspirações que podem ser reais e/ou imaginárias.

Entre essas correspondências, está o diário de Rorschach. Um personagem relativamente famoso, uma subcelebridade. Que, por vários motivos, resolveu provocar a própria morte.

O editor do New Frontiersman lê o diário de Rorschach. Ele faz afirmações fortes a respeito outras celebridades até mais famosas e muito ricas – incluindo o playboy Adrian Veidt, o Ozymandias. Publicando do jeito certo, venderia pra caramba.

Só que tem um problema: Rorschach se matou. E existe um antigo tabu na imprensa a respeito da publicação de suicídios. Uma mistura de curiosidade mórbida com repulsa. Publicar “a seco” venderia muito, mas atrairia um vagalhão de críticas contra o New Frontiersman pela falta de tato em explorar o drama de um suicida. Como repelir as críticas?

O editor liga para seu advogado para conversar sobre o caso. O advogado lembra que existe uma liminar impetrada por Ozymandias, por conta de uma outra questão (possivelmente de sua vida pessoal), que proíbe o New Frontiersman de publicar o nome Adrian Veidt.

Uma sacada genial brilha na cabeça do editor do New Frontiersman: “E$TAMO$ CEN$URADO$!!!!!!” Só precisa chamar a atenção para o assunto.

Imediatamente, o New Frontiersman emite uma nota para todos os veículos de imprensa dizendo que a próxima edição vai sair com uma tarja preta na capa, porque o jornal está censurado por um empresário poderoso.

TODOS PUBLICA. Durante dois dias, só se fala nisso no Twitter. Bom, em 1985 não tinha Twitter. Mas durante dois dias só se fala nisso. O New Frontiersman foi censurado!

***

Mesmo nos quadrinhos existem entidades de proteção a jornalistas. E essas entidades se preocupam quando um meio de comunicação, por sensacionalista que seja, é censurado. Algumas saem em solidariedade imediata. Outras tentam apurar o caso.

E são essas que começam a suspeitar que existe algo errado.

Não adianta ligar para a editora do New Frontiersman. Eles deram dois dias de folga para seus funcionários entre o anúncio da censura e a chegada da edição às bancas.

Não deu resultados a pesquisa por processo aberto recentemente contra a editora do New Frontiersman que pudesse gerar uma liminar. Todos são antigos.

Que raio está acontecendo?

***

A edição “censurada” do New Frontiersman chega às bancas, com uma foto grande de Rorschach na capa. Na chamada, a tarja preta cobre apenas um nome. É possível distinguir as pontas das letras “A”, “d”, “V” e “t”. Mas nem precisa, porque todo mundo já sabe quem é o empresário que teria censurado o jornal. Só quem não pode publicar seu nome, enfim, é o New Frontiersman.

Por estar censurada, a edição esgota muito rápido. Na banca do jornaleiro de boina, ela não durou uma hora. Nem o adolescente que fila revistas de pirata conseguiu lê-la. Entre um e outro gole de café, o jornaleiro de boina pondera:

— Eu sou jornaleiro, eu sei como são essas coisas. Eles não suportam a verdade. Mas tamos aí pra isso: já vendi tudo e tem mais 50 pedidos esperando.

Sucesso absoluto de vendas.

***

A história de “CAPAS” podia acontecer na vida real. Especialmente no Brasil.

O “Top de Linha” do jornalismo, edição 2011

Divertido, isso. Acabo de notar que praticamente todo ano coloco este post num blog diferente. Centralizei aqui os ganhadores das versões anteriores.

Desde 2006, meu maestro soberano Philip Meyer é patrono de um prêmio de jornalismo que reconhece as reportagens de apuração mais complexa publicadas no ano. Semana passada, saíram os três vencedores da sexta edição. “O prêmio reconhece os melhores usos de métodos da ciência social no jornalismo”, diz a descrição oficial.

Trata-se do “top de linha” do jornalismo. Esses trabalhos combinam levantamento de informações públicas, por meio do Freedom of Information Act, análise sofisticada de estatísticas e a sempre eficaz arte de sujar os sapatos.

Em termos de dinheiro, o prêmio Philip Meyer é modesto comparado até aos prêmios brasileiros: US$ 500, US$ 300 e US$ 200, respectivamente, para cada colocação. O significado desse prêmio para o desenvolvimento do jornalismo, porém, é bem mais valioso. Na inscrição dos trabalhos, é preciso descrever todo o processo de apuração. É a complexidade da apuração, e não o produto final ou seu impacto, que pesa mais na avaliação. As descrições dos trabalhos ficam, depois, disponíveis para os sócios da IRE, para que possam aprender com a experiência dos colegas.

Vale a pena conhecer esses trabalhos, que forçam com louvor os limites autoimpostos ao jornalismo pela falta de conforto com os números. Estes são os vencedores de 2011, na descrição feita pela IRE:

1º LUGAR:Dando notas aos professores“, Los Angeles Times

Equipe: Jason Felch; Jason Song, Doug Smith, Sandra Poindexter, Ken Schwencke, Julie Marquis, Beth Shuster, Stephanie Ferrell e Thomas Lauder (Los Angeles Times); Richard Buddin (RAND Corporation)

“Grading the Teachers” é um exemplo de primeira linha de forte narrativa fiscalizadora combinada com o uso inovador de métodos das ciências sociais. De fato, o mote do projeto foi a falha das autoridades de educação de Los Angeles em usar métodos eficazes pra medir a performance dos professores. O Los Angeles Times, aplicando um método chamado “gain-score analysis” (análise de ganho de classificação?) numa imensa base de dados de notas de provas de estudantes e de seus professores, identificou os docentes mais e menos eficientes com base no quanto as notas de seus alunos melhoraram. O Times contratou um especialista nesse tipo de análise para cruzar os dados, dando mais credibilidade aos resultados, mas também fez outras análises estatísticas pra identificar escolas de alta e baixa performance e checar suas conclusões. Ao identificar e classificar 6 mil professores pelo nome, o Times deixou o sindicato dos professores ultrajado, mas a série permitiu que as autoridades distritais passassem a negociar com o sindicato para usar o mesmo método de análise em suas avaliações. Outro sinal do impacto dessa série é o fato de jornais do país inteiro terem começado a solicitar dados semelhantes dos distritos escolares locais.

2º LUGAR:Ataques Sexuais no Campus,” uma colaboração de sete empresas jornalísticas lideradas pelo Center for Public Integrity

Equipe: David Donald, Kristen Lombardi, Gordon Witkin, Kristin Jones e Laura Dattaro (Center for Public Integrity); Robert Benincasa e Joseph Shapiro (NPR)

A série usou métodos sofisticados de pesquisa de opinião como fundamento de uma série de alto impacto que detalhou o custo humano do crime oculto de estupro nos campi, mostrando que os réus identificados por ataques sexuais em instituições públicas e privadas muitas vezes não sofrem punição e que as estudantes que são vítimas enfrentam empecilhos para denunciar os crimes. O trabalho combinou pungentes histórias pessoais das vítimas com uma sólida pesquisa para embasar as tendências mais amplas. O Centro juntou registros de estudantes que concordaram em compartilhar suas histórias, revisou 10 anos de relatórios das universidades, pesquisou centros de apoio a vítimas de estupro dentro e fora do ambiente universitário e compilou processos e queixas movidas junto ao Departamento de Educação. A pesquisa de opinião, além de ajudar a documentar o problema de ataques sexuais não registrados e impunes em campi universitários do país inteiro, também ajudou os jornalistas a encontrar fontes e pautas para suas reportagens. A série levou a mudanças nas políticas a respeito do tratamento de estudantes responsabilizados e à introdução de leis nacionais para consertar o problema.

3º LUGAR:Imigrantes e a Economia da Califórnia,” The Orange Country Register
Equipe: Ron Campbell

Trata-se de uma meticulosa e reveladora série de reportagens que faz um uso extraordinário dos dados do Censo e de imigração, mostrando que a Califórnia utiliza trabalho imigrande mais do que qualquer outro Estado e quase mais do que qualquer país desenvolvido. Analisando microdados públicos do Censo publicados entre 1970 e 2008, e combinando isso com outros dados e apuração, o repórter Ron Campbell iluminou “a economia da imigração” e demonstrou que os imigrantes na Califórnia preencheram a maior parte dos novos postos de trabalho desde 1970 e que trabalhadores estrangeiros se tornaram a fonte primária externa de mão-de-obra. Ele também cruzou suas análises do Censo com dados de imigração e estudos que revelam terem sido as políticas de imigração ignoradas por décadas, e que “as chances de um imigrante ilegal ser detido no trabalho eram de 1 em 1.300”. A série de reportagens deixou furiosos muitos leitores que interpretaram o trabalho como sendo “pró-imigrantes”, mas ninguém questionou a exatidão dos dados. A análise que Campbell faz dos microdados e sua atenção particular à margem de erro em seus resultados é um tutorial em si para jornalistas que empregam métodos estatísticos. No geral, é um projeto voltado a dados completo e instigante, que substitui percepções pelos fatos.